segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Pacto Nacional de Mobilidade urbana deve ser a ‘carta de navegação’ para ação em 2015, reitera coordenador do MDT



Em avaliação feita na última semana de 2014, endereçada ao Secretariado e a contribuintes financeiros do MDT, o coordenador nacional, Nazareno Affonso, voltou a apontar como o principal avanço institucional obtido no ano passado a edição da Resolução Recomendada nº 151, de 25 de julho de 2014, que aprova o encaminhamento ao Comitê de Articulação Federativa (CAF), órgão da Presidência da República, das propostas contidas no Pacto Nacional de Mobilidade Urbana, elaboradas pelo Comitê de Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana do Conselho Nacional das Cidades. Ele reiterou que os termos dessa resolução compõem uma ‘carta de navegação’ para proposições e reivindicações em 2015. A íntegra da resolução pode ser vista por meio de link ao final desta matéria.



Pacto facilitará uso de recursos disponíveis.


Nazareno assinala que 2014 terminou com aproximadamente R$ 145 bilhões concatenados pelo governo federal para projetos de mobilidade urbana. Esse montante inclui verbas do Orçamento Geral da União (OGU), que são recursos a fundo perdido; linhas de crédito de bancos públicos federais e, ainda, as contrapartidas de agentes públicos e privados.

“Todos esses recursos estão voltados essencialmente para projetos estruturadores do transporte, muito importantes nos grandes centros. Porém, com base no Pacto Nacional de Mobilidade Urbana, e considerando apenas uma pequena parcela daquele total – cerca de 10% – poderemos qualificar sobremaneira o sistema de ônibus convencionais em todo o País. Lembro que os ônibus comuns respondem por mais de 80% das viagens quotidianas nas cidades brasileiras e qualifica-los significaria melhorar muito o padrão da mobilidade a curto e a médio prazo”.

O coordenador prossegue, assinalando que com base no Pacto, o MDT tem proposto a implantação de faixas exclusivas de ônibus, abrigos novos e com informações, e a implantação de sistemas de informação online para que os usuários utilizarem eficazmente os serviços ofertados. “Defendemos também que as vias nas quais passam os ônibus sejam recuperadas ou recapeadas, e que o País promova o desenvolvimento de uma nova família de ônibus com motor traseiro, suspensão, câmbio automático, e acessível às pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida, sem os inadequados elevadores”.

Nazareno salienta que, ainda com base no Pacto, o MDT propõe a reestruturação do Ministério das Cidades para que ele possa vir a capacitar os municípios e os Estados para a implementação das propostas das diferentes modalidades do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no campo da mobilidade urbana. “Por ora, há poucas obras efetivamente em andamento. Do conjunto total de recursos disponíveis seguramente não foram gastos mais de 20%. Isso acontece por que a maioria absoluta dos municípios não conta com estrutura capacitada para planejar, projetar, implantar e fazer a gestão dos projetos de transporte”.

ESFORÇO E FIRMEZA

Nazareno Affonso recorda que a elaboração das propostas do Pacto é resultado de um grande esforço que teve a participação direta de diversos membros do Secretariado do MDT. O conjunto de propostas foi solicitado pela presidente da República logo após as manifestações de junho de 2013, em ato que contou com a participação de quatro ministros, e foi preparado em algumas semanas, após a coleção e sistematização de cerca de 180 propostas apresentadas por dezenas de entidades.

No início de outubro de 2013, as propostas foram aprovadas como resolução pelo Conselho das Cidades e no final de novembro referendadas pela 5ª Conferência Nacional das Cidades. Estranhamento, contudo, o documento somente foi publicado em julho de 2014, depois de muita pressão de conselheiros do Conselho das Cidades e de a resolução original ter sido alterada duas vezes.

Os termos da resolução chegaram a ser desconsiderados pelo governo como base das discussões do Grupo de Trabalho Interfederativo sobre o Pacto da Mobilidade, instância criada no âmbito do Comitê de Articulação Federativa (CAF), da Presidência da República;. sem a firme interferência de membros do Secretariado do MDT e do secretário-executivo da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), o tema seria apresentado na reunião inaugural do Grupo Interfederativo em pé de igualdade com outras propostas e não, como era a vontade expressa pela presidente da República, como elemento estruturante dos debates.

Presença do Secretariado do MDT.


Durante a 43ª Reunião do Conselho Nacional das Cidades, em dezembro de 2014, foram definidos os integrantes do um grupo de trabalho do Comitê Técnico de Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana, que aprofundará as propostas do Pacto Nacional da Mobilidade Urbana, agora com apoio técnico e logístico da equipe da Secretaria Nacional de Transporte e de Mobilidade Urbana (SeMob).

O grupo inclui os seguintes membros do Secretariado do MDT: o representante da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) e coordenador nacional do MDT, Nazareno Affonso; o diretor da Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU), Marcos Bicalho dos Santos; o presidente da AEAMESP, Emiliano Affonso. Também integram o grupo membros das organizações fundadoras do MDT e participantes do Fórum Nacional da Reforma Urbana (FNRU) Getúlio Vargas M. Júnior (CONAN),Neila Gomes dos Santos (MNLM), Hércules Lopes Agostinho (UNMP) e Agnaldo Evangelista de Sousa (CMP).

Informativo MDT

Três cidades brasileiras vencem o Sustainable Transport Award 2015



O Sustainable Transportation Award 2015 (STA) acaba de revelar, em cerimônia em Washington DC terça-feira passada, seus grandes vencedores. A premiação global é concedida a uma cidade que tenha implantado projetos inovadores e de destaque no campo do transporte sustentável durante o último ano. Todo ano, uma só cidade com as melhores práticas é escolhida como agrande vencedora. Neste ano, no entanto, o STA decidiu reconhecer três cidades brasileiras.

O STA é uma realização do ITDP – Institute for Transportation and Development Policy em parceria com o Comitê Diretor do Sustainable Transport Award, Ele é concedido anualmente, desde 2005, e os projetos premiados devem melhorar a mobilidade para todos os cidadãos, reduzir a emissão de gases do efeito estufa, bem como melhorar a segurança e o acesso de ciclistas e pedestres no espaço público. No ano passado, a cidade de Buenos Aires conquistou o prêmio.

É animador testemunhar a melhora do cenário brasileiro, que reflete boas práticas com potencial para inspirar e replicá-las a outras cidades. O reconhecimento internacional atesta a excelência do trabalho realizado e projeta desafios para que as cidades avancem ainda mais.

As outras cidades que concorreram ao STA 2015 foram Bhopal (Índia), Brasília (Brasil), Cape Town (África do Sul), Gurgaon (Índia), Hensinki (Finlândia), Iloili City (Filipinas), Milão (Itália), Surat (Índia) e Toluca (México).

Saiba mais sobre o trabalho realizado por cada uma das vencedoras:

Belo Horizonte

A região central da capital mineira, endossa o ditado e prova que, com força política e trabalho sério, as cidades podem tornar-se lugares mais agradáveis, seguros e humanos.

À frente do seu tempo, Belo Horizonte foi o primeiro município brasileiro a desenvolver um plano de mobilidade alinhado à Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), o PlanMob-BH, que projeta ações para os próximos 20 anos. O Plano engloba mecanismos de empoderamento da população, como o Observatório da Mobilidade, pelo qual os cidadãos podem expressar suas demandas junto à gestão municipal.

O PlanMob-BH também projeta a ampliação do sistema de transportes e o desenvolvimento urbano sustentável, pois entre os grandes desafios reconhecidos pelo sexto maior município brasileiro está o aumento da taxa de motorização individual, que cresceu 7,3% em sete anos, ao passo que as viagens por transporte coletivo cresceram apenas 3,2%.

Em março de 2014, a capital mineira inaugurou o primeiro corredor do seu sistema BRT (Bus Rapid Transit), o MOVE. Ele foi desenvolvido ao longo de quatro anos, da concepção à inauguração, dentro das melhores práticas internacionais, tendo contado com apoio técnico da EMBARQ Brasil. Hoje, são 480 mil passageiros transportados diariamente em dois corredores, Cristiano Machado e Antonio Carlos. Com o sistema, o tempo médio de viagem foi reduzido em 40%. Mais um corredor ainda está em execução e, quando concluído, o MOVE totalizará 23,1 km de extensão e mais de 500 mil pessoas beneficiadas.

Além do BRT, o espaço urbano foi revitalizado ao redor do sistema com base no conceito do desenvolvimento orientado ao transporte. A cidade ganhou vida, as pessoas ganharam espaço e a economia local ganhou mais força. Além disso, a capital mineira prevê uma rede cicloviária de 320 km de ciclovias, dos quais 27 km já foram concluídos.

Rio de Janeiro

O Rio continua lindo, mas o cenário de hoje não é o mesmo de alguns anos atrás. Quem passa hoje pela capital mais congestionada do país pode testemunhar a transformação urbana que vem sendo realizada de forma gradual – nas ruas e nas pessoas.

A icônica cidade que recebe o abraço do Cristo Redentor conta hoje com uma rede de corredores BRT que beneficiam 400 mil cariocas que se deslocam de um canto a outro da cidade. Atualmente operam o TransOeste e o TransCarioca, que totalizam 95 km de vias dedicadas. Em operação completa, a rede BRT contará também com os corredores TransOlímpica e TransBrasil, os quais somarão cerca de um milhão de pessoas. A EMBARQ Brasil prestou apoio técnico na implantação do sistema e também realizou simulações em três corredores que foram decisivas para a escolha da cidade como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 pelo Comitê Olímpico Internacional.

No ano que vem, a meta é prover o acesso de mais de 60% da população a uma rede completa de transporte coletivo, desde BRT, até sistemas sobre trilhos e VLT. Todos integrados através do Bilhete Único, cartão de pagamento eletrônico. É um importante passo para garantir mais igualdade social, com acesso a empregos, saúde, educação e lazer. Além do transporte coletivo, um importante ativo para a fórmula urbana da cidade são as redes cicloviárias e os bicicletários, com previsão de concluir 450 km de ciclovias até o ano que vem.

Além das obras estruturantes, a capital criou o Conselho Municipal de Transporte, um órgão deliberativo entre governo e sociedade civil a fim de elaborar diretrizes para política de mobilidade, analisar e propor medidas de concretização das políticas públicas sobre transportes e fiscalizar a implantação dessas iniciativas.

São Paulo

A combinação entre investimentos massivos na qualificação do transporte coletivo e do ambiente urbano e uma política de dados abertos colocaram São Paulo no rol das cidades globais que vêm trabalhando para se tornar mais eficientes e melhores para os residentes.

A grande inovação foi o MobiLab, laboratório em que empreendedores e pesquisadores criam soluções, aplicativos e tecnologias através dos dados para vencer os desafios de mobilidade da cidade. Ele não venceu o prêmio sozinho, mas trabalha em sinergia com cada um dos bons resultados que a cidade teve ao longo do ano.

A Operação Dá Licença para o Ônibus, que resultou em 320 km de vias dedicadas e no aumento médio de 21% na velocidade de operação do modal. Foi uma medida – ainda em andamento – fundamental porque, apesar de a maioria dos deslocamentos na capital serem por transporte coletivo, usuários estavam sendo penalizados no tráfego misto. Com as faixas, os paulistanos ganharam 40,7 minutos por dia em 2014, o que corresponde a um saldo de 20 horas ao mês.

São Paulo também sancionou, em 2014, um novo Plano Diretor que reformou o modo de lidar com questões urbanas como a mobilidade. Ele deixa claro o papel dos sistemas de transporte coletivo para a transformação urbana através do desenvolvimento orientado ao transporte. O Plano estimula o uso misto do solo, calçadas largas, fachadas ativas em prédios e a desobrigação de garagens para novos empreendimentos, além de incentivos fiscais para a doação de terrenos para construção de corredores.

Investimentos em projetos de Gestão da Demanda de Viagens (GDV) também foram considerados pelo STA 2015. A EMBARQ Brasil já realizou seminários e um projeto-piloto para implantação de estratégias GDV na capital paulista.

Com a meta de concluir 400 km ao final de 2015, a prefeitura vem implantando 10 km de ciclovias por semana

Matéria originalmente publicada no portal The City Fix Brasil