quarta-feira, 30 de março de 2011

O MDT e a questão do automóvel



Não há dúvidas: a presença do automóvel será um problema ainda maior nas cidades brasileiras pois basta dar uma olhada no noticiário econômico para perceber o otimismo das grandes montadoras atuantes no País em relação ao desempenho da produção de carros de passeio, segmento que tem demonstrado firme crescimento nos últimos anos, a ponto de fazer com que a capacidade instalada do setor se aproxime da plena ocupação. Parte desses veículos é exportada, mas o restante fica por aqui mesmo, chegando ao consumidor com grandes facilidades de financiamento.

O crescimento do volume de automóveis nas cidades é uma questão que, no plano estratégico, não tem preocupado de fato as autoridades. Em vigor há anos, o Estatuto das Cidades dedica-se à questão dos transportes, porém, por falta de tempo ou letargia política, essa legislação ainda não foi levada a se impor de modo a disciplinar convenientemente o uso e ocupação solo. Também não se conseguiu, com ela, reverter uma tendência perniciosa: a configuração de cidades espraiadas ou alongadas, de baixa densidade, dependentes de pavimentação – fatores que encarecem a implantação e a operação de sistemas transporte.

Textos do MDT - Primeira parte
Cristina Baddini Lucas - Assessorea do MDT

Antropólogo critica modelo brasileiro de mobilidade

O Povo
Na visão do professor e antropólogo Roberto DaMatta, o modelo de desenvolvimento de mobilidade urbana adotado no Brasil nada mais é do que o fruto de um governo “popular” e “populista”, que foi estimulado no decorrer dos últimos 10 anos. “É o governo do transporte individual”, avaliou.

DaMatta afirmou que é no trânsito que a desigualdade e a aristocratização da população brasileira aparecem.

“O trânsito é um espaço que é público e, como ele é brasileiro, realça uma série de questões que fazem parte da nossa vida e que às vezes não conseguimos ver com tanta nitidez”, disse.

Um agravante, segundo DaMatta, é que o povo brasileiro não sente nenhum “desconforto” com a desigualdade constatada no trânsito.

Na realidade, de acordo com professor, o que o brasileiro não tolera é a própria igualdade, sentimento que classificou como o derivado de um “processo de estímulo à repetição de um estilo”, passado de pai para filho, que surpreende pela “agressividade” e pela falta de “cordialidade”. “A sociedade traduziu a cidadania por um viés hierárquico”, resumiu.

O antropólogo está em Fortaleza para participar do Fórum de Ideias Inovadoras em Políticas Públicas, promovido pelo Instituto de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Estado do Ceará (Inesp), da Assembleia Legislativa (AL), onde ministrou o seminário “Vida, Mobilidade e Felicidade Urbana”.

Na ocasião, ele aproveitou para divulgar na Capital seu livro Fé em Deus e Pé na Tábua, que fala da vida urbana e da desigualdade que, no trânsito, se coloca de maneira muito contundente.

Já o programa Debates do Povo, do qual participou, foi mediado por Élcio Batista e teve a participação do jornalista Ismael Furtado e do sociólogo Osmar de Sá Ponte. DaMata definiu o trânsito como um sistema em que o “pedestre é uma unidade excluída do sistema”.

Cristina Baddini Lucas - Assessora do MDT