No desenho do asfalto em que se alternam listras claras e escuras, concentra-se o grande desafio dos pedestres no que diz respeito à integridade física e à vida, mas também a algo mais — é um desafio civilizacional.
A civilidade de um país se mede pelo número de pedestres mortos e para medir a civilidade de uma cidade, além das calçadas temos que olhar o respeito às faixas de travessia. Os motoristas dos Estados Unidos não se comportam melhor lá porque são mais bonzinhos do que os nossos motoristas. É que eles sabem o tamanho do problema que terão pela frente se matarem ou ferirem alguém.Absurdo
O jornalista Gilberto Dimenstein disse que o que ocorre em nosso trânsito são casos tão absurdos que, daqui a não muito tempo, quando olharmos para trás, não vamos sequer entender como os toleramos. É como vemos hoje a mulher não ter direito de votar, crianças serem obrigadas a trabalhar, negros serem escravos ou alguém fumar no avião. Há uma cadeia de tolerância por trás do massacre. Considera-se muita coisa normal.
Quando são publicadas as estatísticas de crime, nós todos quase não damos destaque e até achamos normal haver calçadas que não servem para pedestres, estreitas, esburacadas, muitas vezes usadas para carros estacionarem. Vemos bairros com milionários empreendimentos imobiliários em que não há preocupação com a construção de uma calçada.
Travessia no CTB
O Código de Trânsito Brasileiro - CTB estabelece
que o desrespeito à faixa de pedestres é infração “gravíssima”, punível com
multa de 191,54 reais e 7 pontos na carteira.
É a faixa sem semáforo que costuma ser ampla e irrestritamente desrespeitada. Pela boa regra internacional, basta o pedestre pôr o pé na faixa, e o motorista é obrigado a dar-lhe passagem. Pôs o pé ali, e o pedestre garante sua imunidade.
Aquele sinal no chão não é mero adorno. Para
muitos, aquela seria apenas a marcação do lugar em que preferencialmente os
pedestres deveriam atravessar a rua, desde que não haja carros passando.
Campanhas
É necessário que as Campanhas deem destaque à
educação do motorista respeitando o pedestre. Ora, são os carros que agridem e
matam. São eles a parte forte do confronto. No dia em que forem educados, a
educação do pedestre virá por gravidade.
A campanha deve acenar com punições. Campanha para
valer seria a que fixasse um prazo a partir do qual a ação educativa daria
lugar à aplicação de multas. Foi o que ocorreu em Brasília, a única capital
brasileira em que a população aprendeu a respeitar a faixa de pedestres. Não há educação que não acene com a punição ao
infrator. A leve sensação de punição é fundamental para menos gente ser
atropelada.
Campanhas realmente para valer exigem a prévia
revisão geral da localização das travessias. Nem sempre a faixa deve ficar
exatamente na esquina; muitas vezes, ela seria mais eficaz se colocada mais
para o meio do quarteirão.
A elevação da pista de rolamento dos veículos até a altura da calçada na área onde se encontra a faixa de travessia de pedestres tem sido uma alternativa utilizada para garantir a travessia de pedestres. Sua finalidade é permitir que o pedestre não necessite mudar o nível que se encontra, o que facilita a mobilidade de pessoas com restrições físicas, crianças e idosos, cadeirantes, pois ao invés do ser humano ter que descer ao nível da pista e depois retornar ao da calçada é o veículo que se vê obrigado a diminuir a velocidade pelo obstáculo que é colocado a sua frente.
Ainda vamos sentir orgulho ao parar na faixa.
Cristina Baddini Lucas
Assessora do MDT
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