Não, não é nenhuma promoção ou lançamento de novo programa
de atividades físicas.
É o que indica uma nova pesquisa da USP – Universidade de
São Paulo sobre saúde de quem vive na região metropolitana.
Andar a pé ou de bicicleta até o transporte coletivo todos
os dias para trabalhar ou estudar pode gerar um nível de atividade física
semelhante a frequência de exercícios leves numa academia.
Hoje um dos grandes problemas nas cidades, ligados à
dependência do uso do carro ou moto, é o sedentarismo que pode levar a sérios
problemas como no coração, no metabolismo, perda de massa muscular, de
consistência óssea, obesidade, diabete e colesterol.
Os pesquisadores Thiago Hérick de Sá, Carlos Augusto
Monteiro e Diana Parra, do Nupens – Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em
Nutrição e Saúde, da USP, avaliaram qual o impacto na saúde das pessoas com uma
mudança no perfil dos deslocamentos municipais e metropolitanos e de um
planejamento urbano mais adequado, com polos de geração de emprego e renda mais
próximos das casas das pessoas e melhor infraestrutura para bicicletas e
transporte coletivo. O tempo gasto nos deslocamentos também foi avaliado e
relacionado à saúde e bem estar.
Foram usados dados da mais recente pesquisa de origem e
destino do Metrô de São Paulo, com análise da demanda de pessoas com idades
entre 18 e 60 anos na região metropolitana.
O grupo dividiu as viagens em dois momentos: de forma ativa,
que representa os deslocamentos a pé e de bicicleta até o transporte público, e
a forma não ativa, sentado no carro ou sentado e em pé no ônibus, trem ou
metrô.
Os estudiosos então desenharam três cenários diferentes
alterando os tempos de viagens e os modais escolhidos.
1º) Troca em viagens curtas (até um quilômetro) de carro ou
transporte público por caminhada: os ganhos de saúde individual seriam grandes,
mas do ponto de vista de saúde global da população, seriam limitados. Por
habitante, o tempo diário de deslocamento na região metropolitana de São Paulo
é de 86,4 minutos, dos quais 19,4 minutos de forma ativa e 67 minutos inativos.
Se a troca fosse feita, este tempo iria para 86,2 minutos, sendo 19,6 ativos e
66,4 inativos.
2º) Troca de meio motorizado individual (carro e moto) por
transporte público: há um ganho e uma perda. O ganho é que as pessoas se
movimentam mais, melhorando a saúde. Somente de transporte individual,
gastariam 86,4 minutos de forma inativa. Com o transporte público, o
deslocamento ativo, ou seja, a pé ou de bicicleta, é de 19,6 minutos – este é o
ganho. A perda é o tempo total de viagem, que subiria dos atuais 86,4 minutos para
100,4 minutos. O estudo mostra assim, a necessidade de investimentos em
estruturas como corredores de ônibus e vias férreas para a diminuição do tempo
de viagem no transporte coletivo.
3º) Mescla dos cenários 1 e 2, com deslocamentos a pé e de
bicicleta com o transporte coletivo, mas com um reordenamento urbano da região
metropolitana, reduzindo a distância entre as casas das pessoas e os locais de
trabalho e estudo. Neste terceiro
cenário, a metade das viagens atuais seria reduzida para deslocamentos curtos
feitos apenas de transporte coletivo. O tempo de deslocamento cairia dos atuais
86,4 minutos para 52,9, sendo 26,2 minutos de forma ativa: caminhando ou
pedalando.
Assim, a pesquisa mostra que a dependência do carro, pela
falta de oferta de transporte público adequado ou por hábito, tem agravado a
situação da saúde da população. Apenas a
troca do carro pelo transporte público já traz alguns ganhos porque o indivíduo
diminui o sedentarismo. Mas não é suficiente ainda para resultados
significativos já que o transporte público não recebe ainda o tratamento ideal
no espaço urbano, com poucas linhas de metrô e trem e ônibus ainda com pouca
prioridade na maior parte das vias. O ideal, revela a pesquisa, é uma mudança
que exigiria maior prazo e planejamento: redes de transporte coletivo com mais
investimentos e polos educacionais e de geração de emprego e renda não tão
distantes das áreas residências, evitando grandes perdas de tempo nos
deslocamentos.
Adamo Bazani - jornalista
da Rádio CBN, especializado em transporte
Nenhum comentário:
Postar um comentário